quarta-feira, setembro 03, 2014

O DRIBLE

Aplicada com o atraso de uma vida, a estratégia de Murilo, se é que se tratava de algo tão deliberado, era a mesma empregada por sucessivas gerações de pais brasileiros para se aproximar dos filhos. Muita coisa distancia vida afora pessoas que se contemplam sobre um abismo de vinte ou trinta anos — música, moda, política, costumes, tecnologia —, mas “são praticamente indissolúveis os laços forjados na infância em torno das cores de uma camisa, do culto a ídolos vivos ou mortos, do frenesi terrível de se apertarem lado a lado entre milhares de seres humanos reduzidos a uivos primais, o menino de todas as épocas sentindo no estômago o pavor de ser engolido pela multidão e encontrando na presença do pai a segurança necessária para se perder em algo maior do que ele sabendo que, no fim da partida, fará o caminho de volta.


Após fracassar miseravelmente num Dickens, milagrosamente terminar um Eugenides, enfim estou lendo O Drible, do Sérgio Rodrigues, encontrado numa versão em epub na web. Não indicarei o link em virtude de gostar das obras do autor e desejar que o restante do público contribua com ele adquirindo seus títulos ao invés de baixa-los gratuitamente na internet.



Na realidade, não: eis o link pra obra e leiam, pois ele é muito bom, mesmo. Mal aí, seu Sérgio.

sábado, agosto 09, 2014

DAQUI 1 SEMANA

Semana passada imprimi minha maior distância não disputando uma prova. Fiz aproximadamente 34km, com a intenção de verificar se algo saia fora do lugar, se uma cãimbra traiçoeira se apresentava, se o tênis já gasto definhava, enfim, se eu conseguia cumprir com o trajeto, distante apenas poucos km dos almejados 42 da maratona do próximo final de semana.
Deu certo, o único senão foram assaduras nas virilhas devido a eu ter ignorado a vaselina salvadora. Julguei que não seria necessário e paguei o preço por isso. O cansaço, a estafa, uma pequena dor aqui e ali, um prenuncio distante de câimbra, tudo isso aconteceu, mas o percurso de altimetrias variadas e exigentes dificultava a tarefa, algo que não irei encontrar no próximo domingo em Florianópolis.
Com a impossibilidade de precisar o quão preparado estou, e para que tempo estou preparado para concluir o percurso, me resta mirar nas sub 4h, e sonhar com uma sub 3h45min. Menos de 3h30min é um delírio que eu não me permito almejar.

sábado, agosto 02, 2014

CONTRA UM MUNDO MELHOR

Em matéria de sentido, prefiro os antigos: Deus, a fidelidade, a castidade, a culpa, a disciplina, a família, o medo, Shakespeare, a Bíblia, a Ilíada. Rejeito todos os novos sentidos: a democracia como religião moderna, a revolução sexual, que não passa de puro marketing de comportamento (continuamos a mentir sobre o sexo e a ser infelizes), a sustentabilidade (nova grife para o ambientalismo), a cidadania, a igualdade entre os homens, uma alimentação balanceada, o fascismo dos direitos humanos, enfim, tudo o que os idiotas contemporâneos cultuam em seu grande cotidiano.

Do Luis Fernando Pondé.

E aqui, trecho do post do Constantino sobre How to Think Seriously About the Planet, obra mais recente do mestre Roger Scruton :

O autor descarta as “soluções” radicais daqueles que sempre se imaginam no comando das coisas, no poder global, sem levar em conta outros valores, tais como as liberdades individuais. Para Scruton, os esquemas globais propostos pelos ambientalistas ignoram inúmeras peculiaridades de cada povo, assim como representam uma ameaça à democracia.
O apego ao território e o desejo de mantê-lo protegido da erosão e do desperdício representam poderosos motivos para sacrifícios pessoais voluntários. Scruton descreve tal sentimento como oikophilia, que vem de oikos, ou da ideia de “amor ao lar”. Isso seria bem mais impactante do que “salvar o planeta”, algo extremamente abstrato. 

quinta-feira, junho 12, 2014

ELOGIO DO ANO

Cedo ainda para afirmar, mas me parece que nada poderá ir além disso nesse 2014.


adoro que muito além de tomar mate, muito mate e escutar AM para dormir, até sua preferência de sobremesa tem um ar senil, galvin.

Via troca de mensagens com a Natalie em janeiro, no facebook.

sábado, junho 07, 2014

NOSSO NÚMERO 9

O crescimento do Internacional muito se deveu a ele. Suas atuações no segundo semestre de 2004, como um meia, diferente do posicionamento dele nos anos que viriam a seguir, foram as melhores em toda a trajetória desse mítico jogador pelo Inter. Me recordo, quando da lesão que ele sofreu num dos enfrentamentos que antecederam o jogo contra o Boca Juniors, na Sul-Americana daquele ano, que ali, naquele instante, não havia esperança pra equipe na competição. O time dependia dele, sem ele não possuíamos força pra vencer obstáculos maiores. De 2005 em diante, é história fácil de ser contada, empilhando títulos, servindo como alicerce mor de um time que fez o que não se imaginava ser possível, até então.
A mais marcante entrevista que ouvi dele, foi após a segunda partida da semi-final da Libertadores de 2006. Ainda em campo, ao término do jogo, após ter marcado um dos gols da vitória, o repórter se aproxima e pergunta sobre o que poderia se esperar da decisão contra o São Paulo, que ocorreria na próxima semana. Impossível me recordar das suas palavras, mas a mensagem era de que se podia ir além, o caminho estava ainda por ser trilhado, haveria o respeito pela equipe adversária (naquela altura detentora do titulo da Libertadores e Mundial), mas de maneira alguma o medo. Daria o sangue pela vitória, em resumo. Eu, aterrorizado pela idéia de fracassarmos, tendo ido tão longe. Ele, convicto que poderiamos vencer. E vencemos.
Muito obrigado por tudo, Capitão.


Uh, Terror, Fernandão é Matador

quinta-feira, maio 15, 2014

A MARATONA DE 2014

Meu boicote ao CORPA e os seus comparsas, impedirá que eu corra a Maratona de Porto Alegre até o fim dos tempos. Por esse motivo, já havia setado o destino perfeito para os 42km desse 2014: Foz do Iguaçu. Encontrei pouso na casa de um ex-colega da vida marítima, iria me inscrever e já adquirir tickets aéreos quando me deparo com a informação de que não haverá a prova nesse ano. Utilizando a Copa do Mundo como desculpa, a organização promete que tudo sairá conforme o planejado. Em 2015.
Rápida procura pela web, e eis a grata surpresa: a Maratona de Santa Catarina ocorrerá no meio de agosto e se tornou o meu alvo desde já. A possibilidade de ir de automóvel próprio, hospedar-se na casa de algum conhecido - e por lá eles existem - fez do plano B uma formidável escolha.
Inscrição realizada, convite feito para amigos corredores e resta agora, tratar de resolver pequenos problemas de ordem física, não unicamente o treinamento em si, mas um desconforto sob o peito do pé esquerdo, que vem causando estragos já fazem mais de 2 semanas. Depois de amanhã restarão exatos 3 meses pra prova, tempo mais que de sobra para chegar lá bem. Sobrando.

segunda-feira, abril 21, 2014

PETRIFIED FOREST

Desconheço exatamente o motivo incentivatório, mas passados alguns anos, fiz novamente o download de Honey Moon, oitavo álbum da Handsome Family (grupo que produziu a trilha de abertura do extraordinário True Detective), e uma vez mais me encontrei com a canção que dá titulo a esse post. Desde ontem, tendo ouvido-a uma dezena de vezes, convido-os a ouvi-la e acompanhar a letra, que segue abaixo. Como fracassei em encontra-la no youtube ou qualquer outro lugar recôndito da web, segue o link para o torrent desse álbum. Vale, muito, a pena.


When we were together I lay in your river
As the fish swam through my hands
Raindrops and roses fell from the heavens
Just to brush against your skin
And a strand of your hair lost to the wind
Sent doves wheeling through the air

But now I'm alone in the petrified forest
Stumbling on rocks in the dark
But I remember, I still remember
When you held me in your beautiful arms
When you left me alone the sky turned to stone
And my legs rolled into the sea
Why did you go? The sea was so cold
My arms blew off in the breeze
I search for your footprints, the scent of roses
As the wind weeps over the sea

But now I'm alone in the petrified forest
Stumbling on rocks in the dark
And I remember, I'll always remember
When you held me in your beautiful arms

quinta-feira, abril 03, 2014

LISTA ATRASADA

Update em 06/04: o que eu  julgava impossível, aconteceu. Esqueci no post original do álbum NÚMERO DOIS. Uma pressa momentânea, um delírio do inconsciente ou alguma razão desconhecida desencadearam uma pequena revisão nesse post, seguida do acréscimo do álbum numero dois na listagem que segue abaixo. Reitero meu (quase) espanto com o ocorrido.

Superando todas as marcas de atraso anteriores, contando com um boicote do próprio blogger que desconsiderou um save do post e fez com que uma meia hora de digitação fosse perdida, apenas agora, inicio de abril, publico minha lista do que melhor ouvi no ano que passou. Julguei que, por mais atrasada que estivesse, meus (5) 6 álbuns preferidos mereciam esse crédito. Reconheço que apenas ao término de janeiro me assegurei dos laureados com a distinção. O resto foi procrastinação, preguiça e a falta de um bom teclado.

Antes de mais nada, menções muito honrosas para Janelle Monae - The Electric Lady, The National - Trouble Will Find Me, Arcade Fire - Reflektor e, quem um dia imaginaria, Justin Timberlake - The 20-20 Experience.

(5.) 6. Rhye - Woman
Eis o álbum do primeiro semestre de 2013. Junto com a reedição de Digable Planets - Blowout Comb, ouvi tanto esse Rhye na primeira metade do ano que praticamente esqueci dele na metade seguinte e por pouco não esqueço de menciona-lo nessa lista. Páreo duríssimo com o último álbum do Justin, seria uma tremenda injustiça esse envolvente, ambiental e extraordinariamente aconchegante álbum não contar com, ao menos, a quinta colocação.

(4.) 5. Fuck Buttons - Slow Focus
Dono da faixa do ano, Stalker, um petardo de mais de 10min, absolutamente perfeita (diria que "feita") para um eventual soundtrack de Escape from NY do Kurt Russell, não estivesse atrasada em quase 20 anos. Disco digno de seguidas audições, excelente companheiro inclusive de momentos íntimos & acompanhados. Perfeito para preencher a atmosfera de maneira sombria & aconchegante (último uso de um & nesse post).

(3.) 4. Haim - Days Are Gone
As gatinhas aí de baixo (todas sem exceção), são as irmãs Este, Alana e Danielle e produziram o melhor albúm de rock de 2013. Várias tracks grudentas, ouvidas em casa, nos fones dentro d'ônibus, sonzeira digna de um primeiro lugar, não fossem as belezuras que assumiram o (segundo) terceiro, segundo e primeiro posto.

(2.) 3. Disclosure - Settle 
Cerca de 1h atrás descobri que Disclosure irá tocar no final de semana em SP e isso já ligou meu alerta para setar a gravação do receptor, e acrescentar um pouco mais daquela sensação de amargor ao perder um evento desses ao vivo. Esse álbum me remeteu aos bons tempos de Groove Armada, coisa de quase 10 anos atrás, com aquele balanço magistral de eletrônico, groove, meninas cantando, cadência e também um toque jazzista. Settle provavelmente será, caso já não tenha se tornado, daqueles álbuns que se tornarão atemporais, ouvidos em ocasiões variadas desde o presente até um longínquo futuro.


2. Blood Orange - Cupid Deluxe
Esse inesperado acréscimo em cima da hora devido ao incompreensível ato de esquecimento farão com que eu escreva algo sobre esse disco apenas mais tarde. Cupid Deluxe não merecia essa falta de gentileza.

Update em 20/04: o post mais editado desde o inicio desse blog enfim conclui-se.
Não fosse pela indicação da Pitchfork, provavelmente seguiria sem conhecer esse grupo. Cupid Deluxe, ouvido a exaustão durante o fim dec2013, fez com que eu fosse atrás do álbum de estreia do Blood Orange. Coastal Grooves, de 2011, apenas bonzinho, já deletado do HD após algumas audições devido a permanecer muitíssimo aquém do segundo lançamento do grupo, dono da minha segunda posição na lista. Envolvente, ambiental e extraordinariamente aconchegante, utilizando dos mesmos elogios que citei para o disco do Rhye, com o acréscimos de vocais femininos, faixas muito sensuais, pitadas de rhythm and blues, um delírio musical atraente demais.

1. Run the Jewels - Run the Jewels
Eis o álbum.
Salvo equivoco meu, era meados de agosto, inicio de outubro e eu descobri que a canção Get It, a oitava faixa desse disco tratava-se d'algo absolutamente viral. Houveram noites em que tive de escuta-la além de umas 5 vezes pra me satisfazer. Com o passar do tempo fui dedicando maior atenção ao restante todo e o resultado não poderia ser melhor, sem contendores, primeiríssimo lugar disparado. Minha última imersão dessa magnitude num disco de rap/hip-hop havia sido há muitos anos atrás com Check Your Head, um clássico dos Beastie Boys, que possuía suas faixas instrumentais e não soava tão rap quanto esse Run the Jewels, primeiro álbum em conjunto do branquelo El-P e do gordo Killer Mike.

segunda-feira, março 31, 2014

OS CICLO-ATIVISTAS


Os motoristas viraram a erva daninha da cidade. Ciclistas já os odiavam quando passavam com seu ar de santo ecológico pelos pobres coitados dos motoristas que não moram numa "pequena Amsterdã", como a moçada da classe média alta que mora perto do trabalho ou da "facul", ou que tem um trampo fácil, sem horas duras, ou ganha muito bem ou tem grana de outra fonte e então pode ir de bike para o trabalho ou para a "facul".

O ódio ao motorista virou demonstração de consciência social e ambiental --outro modismo contemporâneo. Esquece-se que essas pessoas são cidadãs como todas as outras. Que pagam impostos exorbitantes para comprar os carros e IPVA todo ano. Pagam IPVA, mas logo não terão direito de andar de carro pela cidade.

Pondé, tecendo alguns parágrafos sobre a praga que se tornaram esses engajados bicleteiros contemporâneos.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

DEUSA SAÚDE

Com o declínio das religiões tradicionais no Ocidente e o fim de qualquer possibilidade de transcendência, tudo que resta aos homens modernos é a tirania da imanência: os seus corpos, as suas patéticas carcaças -e o medo permanente de que a Deusa Saúde, a única que resistiu no Panteão, os possa atraiçoar a qualquer momento.

Coutinho, as usual, escrevendo as melhores crônicas em língua portuguesa.

sábado, janeiro 11, 2014

O RÁDIO AM

Minha relação com o rádio AM, em especial as coberturas esportivas, se estabeleceu ainda na primeira metade da década de 90. Aquela altura ouvia basicamente a Gaúcha, em virtude de que se tratava do melhor sinal, um som sem as estáticas e ruídos comuns a outras emissoras na época, e também porque era muito boa, claramente acima das demais, dos comentaristas aos narradores, da produção aos repórteres, a rádio Gaúcha na década de 90 estabeleceu um parâmetro de qualidade que ela, aparentemente de maneira intencional, no intuito de "atualizar-se", tornar-se contemporânea a geração redes-sociais, procurou se distanciar do passado, modificando desde lindas trilhas de abertura até o seu quadro de profissionais. A qualidade, outrora parâmetro para a concorrência, ganhou contornos de  medíocridade.

No inicio desse século iniciei a busca por outros dials. A Guaíba, naquela epoca com a dupla Reche e Haroldo de Souza como principais protagonistas, me parecia demasiado irritante e com uma conotação populista de causar enjôo. Sempre mais disposta a ficar reclamando de perseguições das arbitragens aos times gaúchos e da concorrência da RBS. Pouca coisa mudou nesses quesitos, mas sem a presença do ex-vereador, de alguns anos pra cá a emissora ganhou um pouco da minha simpatia e o programa de debates ao meio dia é atualmente uma das melhores opções pra se ouvir. Na maioria dos dias conta apenas com cronistas mais velhos, e só isso já bastaria, num atual cenário de coberturas esportivas recheadas de jovens, amantes do futebol europeu e números e táticas e teses e mais teses, do alto dos seus pouco mais de 20 ou 30 anos alçados por si próprios a condição de bastiões da sabedoria futebolística, pretensiosos até a raiz.

Em meio ao distanciamento dos 600mhz e minha aproximação dos 720mhz conheci outra turma. No AM 640 da Bandeirantes, no fim da década de 90, até um pouco além da primeira metade da década seguinte, Paulo Mesquita, João Garcia, Daniel Oliveira, Alexandre Praetzel, Cristiano Silva, Mario Lima, Belmonte, Ribeiro Neto, Hugo Amorim, e outros que minha memória não recorda, sob a égide do maior de todos, Mestre Claudio Cabral, formaram possivelmente o melhor time de profissionais esportivos já formado no radio esportivo gaúcho. O programa de debates ao meio-dia era do gênero imprescindível, balizava minhas ideias sobre a situação dos clubes e a forma com que os jogos haviam ocorrido. Parecia necessário assistir a partida e aguardar pelo programa. Uma tradução do jogo, diferentes e novas perspectivas apresentadas, pontos de vista que com o passar dos anos formaram o alicerce da minha maneira de ver futebol.
O falecimento do Mestre, acrescido com a entrada e a conseqüente saída de alguns, enfraqueceu muito o grupo da Bandeirantes, que parece ter perdido integralmente sua identidade de anos atrás. Uma lástima gigantesca.

O rádio AM segue e provavelmente seguirá sendo um formidável companheiro para as mais variadas ocasiões. Não se larga um habito enraizado a tantos anos de uma hora pra outra, mas que saudade eu sinto de tempos idos, épocas anteriores que, sem quere soar falsamente saudosista, parecem que de maneira alguma voltarão mais.